Peritos defendem limitação do tempo de utilização de tablets em crianças
Os tablets só chegaram ao mercado há três anos, mas já
conquistaram um número muito significativo de adeptos. Mais simples do
que um computador convencional, são especialmente intuitivos para os
mais novos, que com facilidade aprendem a consumir conteúdos ou jogar
nestes aparelhos
Não havendo dispositivos intermediários como o rato de computador,
restam os gestos: intuitivos, especialmente quando as interfaces de
utilizador que predominam nestes aparelhos estão concebidas para adoptar
uma abordagem mais simples do que num PC convencional. O potencial
pedagógico que estes aparelhos representam, no entanto, parece dividir e
preocupar os peritos na matéria, segundo reportou recentemente a
Techland.
Em mercados como os EUA, por exemplo, a adoção dos tablets é muito
superior à adoção em Portugal, sendo por isso mais comum que as
crianças daquele território tenham maior facilidade de acesso a estes
aparelhos. Empresas como a Samsung têm vindo inclusive a lançar
propostas direcionadas para as audiências mais novas (a empresa lançou
recentemente uma variante para crianças do seu Galaxy Tab).
O facto de ser uma categoria de produto relativamente nova ainda não
reuniu um consenso absoluto e divide os peritos, uma vez que as
análises sobre o impacto real destas tecnologias no desenvolvimento das
crianças ainda se encontra numa fase algo embrionária.
Não fazer do tablet uma segunda ‘televisão’
Apesar de ainda não existirem provas concretas do valor educativo que
um tablet pode proporcionar ao desenvolvimento de uma criança, uma das
preocupações que os peritos levantam em relação ao uso destes
equipamentos está diretamente relacionada com o tempo dispensado à sua
utilização.
Se o mesmo for superior ao tempo gasto em interações com adultos, ou
até mesmo a brincadeiras com aparelhos não-eletrónicos, o principal
receio está na sua potencial interferência em atividades que promovam o
seu desenvolvimento cerebral.
O excesso de tempo passado em frente a um ecrã pode apresentar riscos
e conduzir a problemas de adaptação social, além de potencialmente
contribuir para um desenvolvimento social mais tardio.
Isto não significa que não existe valor em aplicações ou jogos
pedagógicos, mas sim riscos associados à utilização concedida aos
dispositivos – se um tablet ou smartphone for utilizado maioritariamente
para consumo de vídeos, por exemplo, os seus efeitos poderão
aproximar-se mais aos provocados pelo consumo excessivo de televisão.
Parece haver um consenso, contudo, sobre a necessidade dos pais
estarem presentes durante o consumo de conteúdos em dispositivos móveis.
Os peritos defendem medidas como a limitação do tempo dispensado para a
utilização de tablets, de forma a não interferir com atividades como o
sono, a leitura ou a interacção com adultos.
“A coisa mais importante para as crianças é tempo [passado com] os
pais e educadores”, de acordo com Dimitri Christakis, pediatra
norte-americano, citado na Time. “Nada é mais importante em termos de
desenvolvimento social. Se o tempo passado com o tablet vem à custa
disso, isso não é positivo”.
Estas interferências em outras atividades podem resultar em efeitos
colaterais negativos como um desenvolvimento da linguagem mais tardio,
ou um retardamento do desenvolvimento social. Um dos motivos apontados
está no facto de que a utilização destes dispositivos assenta
frequentemente numa natureza solitária, e rouba tempo às crianças para
fazerem novos amigos ou adquirirem competências sociais.
O outro lado da moeda revela-nos uma perspetiva mais positiva e otimista em relação à interação das crianças com dispositivos móveis.
Existem pediatras que acreditam haver benefícios em tecnologias como
estas, incluindo a sua facilidade de uso – uma criança pode ter
facilidade em absorver e compreender uma tecnologia destas ainda antes
de entrar na escola, entrando no ambiente escolar melhor preparada do
que uma criança que nunca teve qualquer contacto pedagógico com nenhum
destes aparelhos.
Por Lauro Lopes
1 comentário:
sugiro a leitura de um texto muito interessante acerca do mesmo assunto publicado na revista do Expresso (sábado, 18 janeiro)
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