sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Quem escreve um conto, acrescenta ...

Temos de confessar que esta primeira ronda nos deixou...surpreendidos e desmotivados, pois face a tantos pedidos e a tanto entusiasmo não conseguimos encontrar uma justificação para a falta de participantes neste nosso passatempo.

Afinal pais, tiveram medo? A inspiração não apareceu? A chuva tomou muito do vosso tempo? Ou afinal o passatempo apresentou-se mais difícil que o esperado e perderam o interesse?

Contudo houve dois participantes corajosos que arriscaram e nos revelaram a sua veia de escritores e nos deliciaram com duas histórias fantásticas. Por considerarmos que aqueles que arriscam e investem merecem sempre um reforço e valorização, esta semana ambas as histórias saem vencedoras e ganham mais espaço no ranking do passatempo.

Aqueles que pelas mais diversas razões não puderam participar contamos com as vossas palavras na próxima semana. Até lá deliciem-se...

Era uma vez uma menina que tinha uma imaginação muito, muito, mas mesmo muito grande. E sempre que imaginava uma coisa tudo em que pensava parecia ganhar vida. Ela via a mãe sempre vestida como um rainha, com cabelos dourados que chegavam ao chão e com a uma coroa que brilhava mais do que o Sol. O pai parecia um valente cavaleiro que usava uma armadura de prata toda fechada e que fazia muito barulho quando andava.

Isto era um problema muito grave para a menina, que todos os dias tropeçava nos cabelos da mãe e que tinha muitas saudades dos beijos do pai e da comichão que o bigode dele lhe fazia na cara. Mas o pior eram os monstros que a seguiam no caminho para a escola. Em vez dos colegas a correr de mochila às costas, a menina só via os monstros com que sonhava à noite.

Então um certo dia a menina decidiu ir ao médico para ver se ele a conseguia ajudar. Quando entrou viu um lobo muito velhinho que usava uma bata branca e tinha uns óculos sobre o nariz. O lobo disse para ela não se assustar e explicou-lhe que era um lobo médico e que ajudava as crianças. A menina explicou-lhe o seu problema e o lobo ficou uns minutos a pensar, enquanto coçava a cabeça cheia de pêlos brancos com uma das patas. Depois sorriu e disse que havia uma maneira muito fácil de resolver o problema, bastava que ela só imaginasse coisas boas.

Nessa noite a menina fez o que o lobo lhe ensinou e imaginou que o tecto do quarto estava cheio de estrelas. Quando adormeceu sonhou que conseguia voar entre as estrelas e que se conseguia sentar na Lua.

No dia seguinte desceu as escadas a correr e quando entrou na cozinha encontrou o pai e a mãe de mão dada. A mãe tinha o cabelo muito comprido mas já não tocava no chão e ela ajudou-a a fazer torradas com doce. O pai vestia uma camisola de lã muito quentinha e ela aconchegou-se no seu colo enquanto comia. No caminho para a escola encontrou os amigos que a chamaram a sorrir e fizeram uma corrida para ver quem chegava primeiro.

O tempo passou e a menina cresceu até ser uma mulher e começou a imaginar menos coisas, porque todos sabem que os crescidos não conseguem imaginar tantas coisas como as crianças. Mas ela nunca se esqueceu do velho lobo e ainda hoje, quando vai deitar os filhos, abraça-os com carinho e contam juntos as estrelas no tecto do quarto.


Rui Bernardo


Era uma vez uma gotinha de água que tinha uma preocupação muito, muito, mas mesmo muito grande.

Esta gotinha vivia numa nuvem bem lá no céu alto. A gotinha gostava muito de lá viver. O ar era muito puro, estava muito perto do Sol quentinho e na nuvem viviam muitas gotinhas amigas. A ideia de sair da nuvem para vir até à terra era uma ideia que não agradava nada à nossa gotinha.

E sempre que o tempo ficava um pouco mais escuro a nuvem onde a nossa gotinha vivia parecia ganhar vida, ficava muito agitada e quase todas as gotinhas de água que lá viviam caiam em direcção à terra.

Isto era um problema muito grave para a gotinha de água. Que se segurava sempre muito bem para não cair. Então certo dia ela foi ao centro da nuvem falar com a mais velha de todas as gotinhas que teve a ideia de dizer à nossa gotinha que tentasse deixar-se cair com as outras gotas. Explicou-lhe que não deveria ter medo de experimentar cair do céu. Contou-lhe que cair do céu podia ser uma aventura fantástica. Podia conhecer o oceano de perto, podia tocar na água de um rio, ou podia sentir as folhas das árvores ou até mesmo os frutos. Cair do céu com todas as outras gotas era uma aventura, mas podia ser muito mais do que uma aventura. Ao cair na terra as gotinhas de água iam ajudar a terra, as plantas e os animais a crescer. Pois todos os seres da terra precisam de água para viver e crescer.

A gotinha nunca tinha pensado daquela forma e toda contente seguiu caminho a pensar na conversa da gotinha mais velha. No dia seguinte, depois de uma noite muito bem dormida e de ter sonhado com a terra e as plantas, com o mar, os rios e os oceanos, a gotinha apetecia-lhe muito experimentar cair na terra e fez uma promessa a si mesma: da próxima vez que chovesse ela não se agarraria com tanta força à nuvem e desde então deixou de ter medo.

Chegou assim um dia em que o tempo ficou mais escuro e a nuvem uma vez mais pareceu ganhar vida, ficou muito agitada e várias gotinhas começaram a cair. A nossa gotinha encheu-se de coragem, respirou fundo e juntamente com outras gotinhas deixou-se cair.

E depois sabem o que sucedeu?

A gotinha iniciou uma viagem grande. Assim que ficou mais perto da terra sentiu-se a tocar nas folhas de uma árvore muito grande e foi escorregando de folha em folha.

Era uma sensação muito boa.

De uma folha passou para cima de uma bolota, esta nossa gotinha de água estava em cima de um carvalho, e foi escorregando de bolota em bolota, e de folha em folha.

A gotinha estava a adorar a viagem mas só pensava que nunca mais tinha fim.

O fim chegou e não demorou muito. Da última folha a gotinha caiu em cima de uma flor linda que assim que sentiu a gotinha sorriu dizendo Obrigada.


Xana Bernardo

4 comentários:

Xana disse...

Apenas posso incentivar os outros pais a tentarem escrever. A ideia a mim não me soava a uma coisa fácil e depois de começar soube muito bem. Experimentem ou então podem sempre pedir ajuda aos filhos, aposto que a imaginação deles não tem fim ;-)
A Tia Cristina quer saber se o passatempo está aberto também às tias, pois ela adoraria participar.
Bjs

Marta disse...

Claro que as tias e outros familiares também podem participar...

Quanto a mim só tenho de dar os parabéns aos autores, porque achei as histórias fantásticas. Cada um com o seu estilo, claro... mas igualmente fantásticas. Obrigada por participarem!!!

Mãe João disse...

GRANDE MÃE XANA!!!!!!!

GRANDE PAI RUI!!!!!

Mais uma vez são exemplo.

Não lhes dou os parabéns... é pouco!!!!

As histórias cá de casa hão-de chegar aí. ESTÁ PROMETIDO!!!!!!

Anónimo disse...

Eu adorei a ideia do passatempo e adorei as histórias. Mas confesso que fiquei entusiasmada com a possibilidade de as tias também poderem participar.
Beijinhos.